segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Abíul - 01 de Agosto de 2015 - Pelas palavras de Luís Fera

No passado dia 01 de Agosto de 2015, o Aposento da Moita deslocou-se mais uma vez como é tradição, à praça de toiros mais antiga de Portugal na carismática e muito aficionado aldeia de Abiul, para contabilizar mais uma corrida de toiros no calendário da presente temporada, a honrar os pergaminhos de uma jaqueta com o peso histórico de 40 anos de devoção, entrega e dedicação dos muitos forcados que envergaram esta jaqueta e elevaram o nome da família Aposento da Moita.

 Os aficionados em regra conhecedores e exigentes, deslocaram-se a Abiul enchendo três quartos de praça, para assistir a um espectáculo com um cartel de figuras importantes no panorama taurino, composto pelos cavaleiros Joaquim Bastinhas, João Moura Jr e Filipe Gonçalves, em que foi lidado um curro de toiros bem apresentado da ganadaria Passanha, ficando as pegas incumbidas aos dois valorosos grupos de Coruche e do Aposento da Moita.

De uma forma geral, com os toiros a cumprirem em apresentação e bravura, com entrega e bom desempenho de todos os intervenientes, proporcionou-se um espectáculo bastante agradável com emoção que deixou todo o público satisfeito por ter assistido a uma boa tarde de toiros.

No que diz respeito à prestação em concreto do Aposento da Moita, concretizaram-se três pegas de bom nível, sendo uma à 2ª tentativa e duas à 1ª tentativa, com as seguintes especificações:

• O 1º toiro estava bem apresentado, com boa cara e pesava 550 Kg. Apresentava uma dificuldade de visão na vista esquerda que comprometeu naturalmente a lide do cavaleiro e esteve sempre muito parado ao longo de toda a lide.
Para a cara deste toiro foi escolhido o forcado Zé Maria Bettencourt, que previamente se ofereceu para pegar o toiro, contando com a 1ª ajuda do Bernardo Cardoso e 2ªs ajudas do João Rodrigues e Miguel Fernandes.

Na 1ª tentativa o Zé Maria realizou um cite vistoso a mostrar-se bem ao toiro, mediu bem as distâncias, carregou de largo como deve ser, recuou na medida certa e realizou uma boa reunião à barbela bem acoplado na cara do toiro, no entanto acabou por ser despejado num segundo derrote do toiro, por ainda não estar fechado na cara do toiro com a convicção suficiente e necessária para concretizar a pega.

Na 2ª tentativa o Zé Maria já demonstrou uma convicção superior, visível no próprio cite que apesar de sereno e vistoso já denotava mais raça e ganas. Procurou fazer sair o toiro ainda mais de largo carregando duas vezes seguidas, todavia o toiro não saiu o que fez com que o Zé Maria tivesse de entrar nos terrenos do toiro, naquele espaço que só os forcados com grande coragem e sangue frio conseguem manter a serenidade, como sucedeu. Voltou a carregar, o toiro saiu pronto, tendo recuado e reunido de forma correta bem fechado à barbela com convicção, que lhe permitiu concretizar uma boa pega à 2ª tentativa, que contou com uma excelente 1ª ajuda do Bernardo Cardoso num momento determinante em que o toiro abrandou no meio da investida e o Bernardo entrou nesse momento a evitar que o toiro despejasse o forcado da cara. Esse momento em que o toiro abranda exigia uma decisão mais rápida do grupo a avançar para o toiro e não a esperar, como aconteceu, todavia, o toiro voltou a arrancar e aí o grupo fechou de forma eficiente com se exigia, consumando-se uma boa pega ao 2º intento.

• O 2º toiro para o Ap Moita estava bem apresentado, com boa cara com o peso de 510 Kg, tendo sido o toiro mais bravo da corrida, que investia de forma franca e nobre de qualquer sítio.
Para a cara deste toiro foi escolhido o forcado Salvador Pinto Coelho, que se ofereceu previamente para o pegar, já o tendo feito também no toiro anterior, tendo contado com a 1ª ajuda do Miguel Fernandes e 2ªs ajudas do João Rodrigues e do Bernardo Cardoso.

O Salvador Pinto Coelho realizou um bom cite, sereno e vistoso a mostrar-se bem ao toiro, tendo no entanto, entrado demasiado nos terrenos do toiro, que pela sua bravura saía quando o forcado quisesse, pelo que deveria ter dado mais espaço ao toiro e carregar de mais largo, porque ao entrar nos terrenos do toiro os três tempos carregar/recuar/reunir tornam-se mais precipitados e arriscados. Em todo o caso, a reunião apesar de precipitada foi ajustada e com raça, vontade e querer, fechou-se à córnea com decisão para com ajuda coesa do grupo concretizar uma boa pega ao 1º intento, com merecida chamada aos médios a solo para agradecimento, após a volta a arena.

• O 3º toiro para o Ap Moita também estava bem apresentado, com boa cara, com o peso de 535 Kg, revelando bravura ao longo da lide, apesar de menos possante nas investidas.
Para a cara foi escolhido o forcado Zé Maria Águas, que não concretizava uma pega a um toiro à cerca de dois anos e em boa hora regressou em Abiul, tendo contado com a 1ª ajuda do Miguel Fernandes e 2ªs ajudas do Bernardo Cardoso e João Rodrigues.

O Zé Maria Águas iniciou o melhor cite da tarde, bem cá de trás a dar vantagens, com o toiro desde o início do cite fixado e centrado com o forcado, tendo encurtado os terrenos de forma serena e vistosa, a mostrar-se bem ao toiro. Mandou no toiro e carregou de largo como deve ser, tendo o toiro saído pronto, aguentou e recuou na medida certa e com uma reunião ajustada fechou-se de forma muito rápida à córnea com bastante convicção, concretizando a melhor pega da tarde, com o grupo muito coeso ajudar de forma bastante eficiente.

O Zé Maria Águas deve apenas corrigir no momento da reunião o movimento dos braços que devem sair da cintura de forma lateral em direcção à barbela e não fazer o movimento por cima em direcção à córnea como aconteceu.

A presente crónica baseou-se exclusivamente na observação direta da corrida em praça, pelo que a não visualização de vídeos ou fotos impede a realização de uma avaliação mais precisa e rigorosa de pormenores, por vezes bastante relevantes.

O Grupo de Coruche teve o infortúnio de se terem lesionado alguns forcados no decorrer do seu desempenho em Abiul, pelo que em nome do Aposento da Moita não posso deixar de manifestar toda a solidariedade e apoio ao Grupo de Coruche, nestes momentos sempre mais difíceis em que se lesionam forcados, fazendo votos que os mesmos tenham a melhor e mais rápida recuperação possível.

Para finalizar não posso deixar de fazer uma referência ao extraordinário espírito que sempre caracterizou a família do Aposento da Moita e que em muito contribui para o sucesso no desempenho do grupo em praça e que atualmente todos continuam a promover e estimular esse mesmo espírito no seio do grupo.

Agradeço o estimável convite para a realização da crónica da corrida em Abiul, sendo esta uma praça revestida de capital relevância no percurso tauromáquico do Aposento da Moita em geral e no meu em particular.

Pelo Aposento da Moita VAI ACIMA,
MAIS ACIMA
Bota Abaixo

Luís Fera

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